Infraestrutura da Qualidade: dilema brasileiro?

Muitas vezes não paramos para pensar em como a Infraestrutura da Qualidade tem dois campos de atuação que podem ser bem distintos, o governamental e o mercado. É justamente o que o Dr Ulrich Harmes-Liedtke chama atenção no excelente artigo One System, Two Functions, que vale um breve resumo.

Segundo ele, a IQ é um único sistema, mas que possui duas funções, atender as demandas governamentais e atender a demandas do mercado, que podem ser muito distintas. O governo, por exemplo, está preocupado com segurança do consumidor enquanto que o mercado está preocupado, entre outras coisas, com competitividade.

O Dr Ulrich aborda o ponto de vista da normalização, em que vê uma ameaça pois o governo tende a querer normas mais rígidas e prescritivas, para usar na regulamentação. Por outro lado, o mercado deseja normas flexíveis e mais abertas para a inovação. Aborda também o ponto de vista da avaliação da conformidade, que muitos vêem como centro do sistema de infraestrutura da qualidade. Ele discorda desta visão e defende que a IQ é requerida muito antes da certificação, ainda no desenvolvimento de produtos.

A IQ funcionaria como uma “borboleta”, com o sistema no centro e as duas asas sendo as duas funções citadas, conforme figura a seguir:

A “borboleta” da IQ

Em sua conclusão, ele trata no último parágrafo dos países em desenvolvimento, e aponta uma conclusão interessante:

However, in developing and emerging countries, the problem is that the two wings of the system are usually developed very differently. The wing of regulation is strong, the market wing weak. The work of the National Standards Institute focuses on inputs for technical regulations; metrology is mainly active in verification and type approval; conformity assessment is used primarily by regulatory authorities. Companies then often perceive the Quality Infrastructure as part of government control, ignoring its potential benefits for continuous improvement and ignoring innovation. This perception, in turn, means that Quality Infrastructure in developing and emerging countries often lacks real contribution to increasing competitiveness and development.

Para ele, o grande desafio dos países em desenvolvimento é justamente promover o equilíbrio entre as duas funções. Assim, as empresas perceberão a IQ como um aliado na promoção da competitividade e não como um instrumento de governo para controle.

2 Replies to “Infraestrutura da Qualidade: dilema brasileiro?”

    1. Professor, nosso propósito é divulgar a infraestrutura da qualidade no Brasil e conteúdos como este artigo são importantes para conseguirmos trabalhar a cultura da qualidade em nossa sociedade. Particularmente concordo muito com os pontos que levantou no artigo, especialmente sobre a diferença de peso das duas funções nos países em desenvolvimento. Certamente se aplica ao Brasil.

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