A vontade: nossa força impulsionadora

É impressionante a quantidade de livros e vídeos que criam a impressão que vencer é fácil, que basta querer. Chegam a montar programas de treinamento com esta premissa, levando muitas pessoas a grandes desilusões quando descobrem que não era tão fácil assim, ou até pior, que são muito incompetentes por não conseguirem.

Os erros que impedem nossa vontade

Jules Payot, um educador do século XIX, apontava que haviam dois grandes erros na origem da incapacidade das pessoas em atingir seus objetivos.

O primeiro, que ele reputava a origem em Kant, era a crença de que nosso caráter é imutável, que uma vez definido, não tem como ser diferente. É a crença que na essência somos sempre os mesmos, que não temos capacidade de mudar. Assim, todo esforço é inútil. Sabem aquela frase que não consigo aprender matemática? Tem origem neste pensamento. Sou burro, não adianta estudar; não consigo aprender. É um pensamento que nos imobiliza e nos impede de crescer.

O segundo erro é quase que o contrário, muito presente nos dias de hoje, de que basta querer. Isto é, basta uma simples decisão e está tudo resolvido. Todo o pensamento com base em uma resolução súbita, em um pensamento positivo, tem raiz nesta falsa compreensão da natureza humana e nosso papel neste mundo. Ele chamou esta concepção de falso entendimento do livre arbítrio, que liberdade é fazer tudo que se quer.

A verdadeira liberdade

O que Payot nos alerta é que o nossos grandes feitos são resultado da vontade, mas não vontade como sentimento, como modernamente entendemos, mas no sentido clássico, de uma decisão com base na razão. Ela é o primeiro passo, o que impulsiona. Nossa vontade é testada à medida que nos dedicamos, pois alcançar nossos objetivos vai nos exigir muita dedicação e paciência.

Para ele, a liberdade não é um direito ou um fato, mas uma conquista. É quando nos dedicamos com afinco que a alcançamos, que conseguimos realmente crescer como pessoas e profissionais. Temos que desconfiar das promessas de sucesso súbito e sem esforço; quase sempre é um engodo. Ou seja, é pela vontade verdadeira, que se traduz em um esforço constante e paciente que poderemos realizar nosso potencial.

Somente é livre quem merece ser livre. A liberdade não é nem um direito, nem um fato; ela é uma recompensa, a mais alta recomensa, a mais fecunda em felicidade. Ela é, para todos os acontecimentos da vida, o que é a luz do Sol para uma paisagem. E aos que não a conquistarem serão recusadas todas as alegrais profundas e duráveis da vida.

Jules Payot, A Educação da Vontade

O resto é ilusão.