O Brasil vive dos chamados vôos de galinha. De vez em quando dá um pequeno salto de desenvolvimento, mas logo este salto se mostra tímido e não se sustenta. Vem um período de estagnação, uma descrença geral, e ficamos aguardando uma nova subida, que termina em frustração.
Por que estes crescimentos não se sustentam? Por que terminamos onde começamos, como uma eterna nação que não consegue alcançar seu futuro, uma promessa sempre adiada?
Há vários fatores, mas um deles pouco se fala. Trata-se da qualidade. O Brasil não entende a qualidade como um fator de desenvolvimento. Pelo contrário, muitos entendem que a qualidade é um luxo, algo que nosso povo “não pode pagar”. A origem desta confusão é associar qualidade com preços mais altos, o que geralmente é uma falácia. Caro é ter um produto que não funciona ou que gera risco para quem o usa. Caro é ter um processo industrial sem controle, com ineficiência e perda de insumos e horas de trabalho. Caro são os vôos de galinha.
Não existe exemplo de país plenamente desenvolvido que não tenha a qualidade no centro de seu mercado. Há uma verdadeira simbiose entre qualidade e bons empregos, assim como uma associação forte entre a falta de qualidade e os sub-empregos. Um dos grandes problemas do país é a baixa renda de nossa população em geral. Um dos motivos é a baixa qualidade em parte de nossa economia. Achamos a qualidade um luxo ou algo inalcançável. Somos extremamente tolerantes com o que compramos, muitas vezes buscando o menor preço nominal sem levar em conta o tempo de uso ou a nossa própria segurança. Falta muita informação e conscientização, tanto para as pessoas quanto para os próprios empresários.
O Brasil precisa fazer uma aposta pela qualidade. Tem que ser o centro de nosso processo produtivo, o hábito angular que impulsionará nosso desenvolvimento econômico. Meu sonho é que qualquer política pública voltada para crescimento econômico tenha a qualidade como critério. Seja para investimentos públicos, acesso aos equipamentos, benefícios de toda ordem. Um setor está precisando de uma política específica, tem que responder uma pergunta simples: como esta política vai gerar maior qualidade? Não sabe? Volta para a prancheta. Sem isso, estamos condenados aos incontáveis vôos de galinha. Um país eternamente frustrado.
Precisamos entender que a qualidade não é mais um diferencial competitivo para uma empresa, é condição de sobrevivência.