Um paradoxo da educação: quando menos é mais

Em minha vida escolar tive bons e maus professores, como todo mundo. O interessante é como julgamos o bom e mau professor. Um paradoxo da educação é que julgamos como bom professor o que facilita nossa vida, especialmente na hora de fazer as provas. São aqueles que explicam bem, nos dão dicas, nos preparam para os testes. Como em quase tudo, vemos bem o curto prazo.

Imagem de um óculos de leitura sobre uma pilha de livros

Intuitivamente sempre tive um sentimento que algo não estava muito bem ali. Lembro de professores que eram péssimos, mas que curiosamente lembro bem das matérias que ensinavam. Por outro lado, os que davam show lembro muito pouca coisa do que efetivamente aprendi. 

Talvez a questão esteja na dificuldade. Os verdadeiros bons professores nos colocam dificuldades reais, nos explicam de forma mais profunda, nos tentam conectar com os conceitos. Os superficiais querem resolver seu problema prático: que os alunos passem nas matérias. É fácil reconhecê-los: eles nos dão atalhos que nos permitem resolver problemas sem realmente compreendê-los. “Sempre que acontecer isso, faça aquilo”. Esse é o mantra desses professores. Nos ensinam a não pensar, eis o problema.

A coisa ainda se complica mais quando se coloca a simpatia no meio. Os professores de curto prazo, vamos chamá-los assim, costumam ser simpáticos, comunicativos. Assim, muitos são uma espécie de show man e por isso mesmo os cursinhos os disputam. Por isso mesmo não se deve confundir as coisas: cursinho não é educação, é treinamento. O objetivo é passar numa prova. O que vier depois é problema do aluno. Antes que digam que não sei do que estou falando, fui professor de cursinho e fazia justamente isso, treinava meus “alunos” a fazer uma prova. 

Voltando no tempo, minha educação

Lembro bem de alguns excelentes professores que tive no passado, embora não pensasse assim na época. A memória deles é muito mais viva para mim do que os que gostava. Geralmente não ganham reconhecimento, não são escolhidos para serem paraninfos, não recebem homenagens. Eis um tipo de paradoxo da educação: os melhores não costumam ser reconhecidos, o que gera um incentivo para os piores.

Aqui cabe um alerta: não significa que todo professor ruim seja na verdade um bom professor disfarçado. Muitos são ruins mesmo. Preguiçosos, não se interessam, não querem nem ajudar no curto prazo e muito menos estão preocupados com o longo. Sempre digo que o pior ambiente que frequentei foi a sala de professores de uma determinada faculdade. A negatividade era tanta que usava fone de ouvido para não escutar tanta barbaridade. 

Longo Prazo x Curto Prazo

A questão de fundo parece ser algo que Bastiat chamava atenção, a diferença entre aquilo que você consegue ver e o que não consegue. Especialmente nas questões de longo e curto prazo. Vemos bem a consequência imediata (fazer provas) e não as mais distante (usar o conhecimento para resolver um problema real). 

A modernidade parece ter acentuado isso. Somos cada vez mais prisioneiros do imediatismo. Basta ver o senso de urgência que temos em tudo que fazemos. Queremos reconhecimento e tem que ser agora! Poucos de nós se preocupam realmente em plantar para o futuro. Só que um dia o futuro chega, não é verdade? E o que vemos são pessoas cada vez mais despreparadas para lidar com a realidade porque foram poupadas de qualquer dificuldade durante seu crescimento, incluindo um tipo muito especial de professor, o mais natural deles, nossos pais. 

d